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domingo, 26 de dezembro de 2010

a ponte do imperador


Afundada no sofá eu ouvia os risos, o tilintar de copos, pratos e talheres. Burborinho de vozes, em vários tons, o barulho das crianças correndo, excitadas, pensando nos presentes, que logo receberiam. A chegada de novos convidados era saudada com gritos, tapas nas costas, abraços apertados, beijos estalados. Parecia que não se viam há anos !

A dona da casa, orgulhosa, olhava para a bela mesa ornamentada, a melhor toalha, os melhores talheres, a louça especial, que só sai do armários em dias significativos. Os cristais brilhavam, refletindo as luzes da sala. Sobre a mesa, os pratos decorados, as sobremesas muito elaboradas. Ela aspirava o delicioso aroma que se espalhava pela sala. Parecia pensar que valera a pena, toda a trabalheira de uma semana inteira de muito trabalho. Estava satisfeita com o resultado final !

Eu, afundada no sofá, fazia parte do cenário. Mas não estava presente, meu pensamento estava em você. Eu não destoava do ambiente, tinha congelado nos lábios aquele sorriso que você arrancava de mim, quando queria me fotografar, lembra? -
-Diz "cheese", vamos, não faça pirraça, você é linda! Eu reclamava que não era fotogênica, que odiava fotografias e você ria, e insistia, até que eu permitisse a tal fotografia. Depois ríamos juntos.

Lembra quando nos conhecemos ? Você fez um legítimo "vestibular musical", para me testar. Como eu acertava todas as questões, no caso as músicas das bandas que você amava, começaste a dificultar, mas eu ia respondendo. Reclamei de jogo sujo quando trouxeste o Pixies e o Metrô para o teste ! Nesse caso, tive muita sorte, como confessei depois, só conhecia uma música de cada um deles, as que escolheste para me testar. Como rimos, estávamos tão felizes !

Hoje estou aqui, afundada no sofá, com muita saudade de você. Onde andará? Como preencher esse espaço que há entre nós? A sua "consciência", como me chama, está em fase de turbulência, não sei o que pensar. Não sei o que é certo ou errado. Sua "consciência" está inconsciente.

Na dúvida, não ultrapasse, diziam os outdoors, nas estradas que percorríamos, no tempo em que éramos simplesmente - felizes. Estou seguindo a fila de carros na minha frente, tenho medo de fazer a ultrapassagem.

You cannot quit me so quickly
There's no hope in you for me
No corner you could squeeze me
But I got all the time for you, love

Quando foi que deixamos de ser felizes ? Eu não percebi. Como aconteceu isso conosco? Será que estivemos o tempo todo apenas jogando? Quando as conversas se tornaram banais, falávamos sobre o tempo. Antes, nem percebíamos a mudança do tempo. Que importava se estava chovendo, fazendo frio ou derretendo o mundo de tanto calor? Nós vivíamos uma eterna primavera. Não lembro o momento em que o sorriso foi substituído pelo choro. Só lembro da nossa luta desesperada, para reencontrar o riso. Bem que nos esforçamos! Erramos quando começamos a mentir que estava tudo bem entre nós. Deveríamos ter sido mais honestos e tentado entender o que estava acontecendo. É fácil fingir, difícil é ser verdadeiro.

The space between
The tears we cry
Is the laughter that keeps us coming back for more
The space between
The wicked lies we tell
And hope to keep us safe from the pain

Estou aqui, afundada neste sofá, pensando em você. Estou sorrindo, estou inserida neste contexto de alegria, mas mais uma vez, estou mentindo. Não estou com vontade de sorrir. Eu queria chorar. Só a saudade é verdadeira. Fico aqui me questionando :

Will I hold you again?
Will I hold.....

Recebi seu e-mail. Fiquei dois dias olhando para ele, sem nenhuma vontade de abrir. Estou mentindo novamente. Morria de vontade de ler, mas não tinha coragem. Percebeu que a mentira surge entre nós, sem nenhuma razão de ser?

Olhava para aquele e-mail e pensava no motivo de você não ter telefonado. Queria ouvir sua voz, mais uma vez. Mas foi melhor assim, lembra que eu nunca conseguia xingar ou dizer não , quando conversávamos ? Mandava e-mails, bem desaforados ! Conforme o teor, você fingia nunca ter recebido? Será que não foi aí, que começaram nossos problemas? Eu não conseguia dizer o que estava me aborrecendo, quando olhava nos seus olhos, eles sempre me seduziram. Gostava de ver eles mudarem de cor, de acordo com o que você sentia. Mais escuros, quase negros, quando estava muito aborrecido. Castanho dourado, com pontos luminosos, quando estava muito feliz.

Take my hand
Cause we're walking on out of here
Oh, right out of here
Love is all we need yes

Deveríamos ter entrelaçado nossas mãos, olhado um nos olhos do outro e termos dito verdades. Só precisávamos do amor, mais nada.

We're strange allies
with warring hearts.

Abri seu e-mail. Coração na mão. A medida que eu ia lendo, ficava imaginando você aí, sozinho, na "nossa ponte". Não entendo o motivo de você ter ido para a "nossa ponte". Sei que vivemos momentos lindos nela . Lembro de você ter dito que ela era simbólica, era uma ponte que não levava a lugar algum, eu discordava. Era um ancoradouro, eu dizia, nela você poderia atracar e vir ao meu encontro . Como estávamos felizes aquele dia! Seus olhos dourados diziam tudo.

Devo concordar que você tinha razão - aquela ponte não nos levou a lugar algum. Eu não irei ao seu encontro, mas não é por pirraça (como você acusa muitas vezes), o espaço entre nós é cada vez maior. Não sou suicida, não vou me atirar no abismo e a nossa ponte não existe. O jogo , agora, é todo seu.

All we can do, my love
Is hope we don't take this ship down

Agora precisa parar e pensar . Sem jogos, sem mentiras. O amor não pode ser envenenado por meias verdades, por palavras não ditas. O amor é apenas verdade. Nós dois mentimos. Eu não vou me encontrar com você na Ponte do Imperador. Aquele momento foi mágico, não vamos estragá-lo. Talvez a magia não aconteça novamente. Precisamos crescer ! Quem sabe....

The space between
What's wrong and right
Is where you'll find me hiding, waiting for you
The space between
Your heart and mine
Is the space we'll fill with time
The space between

Feliz Natal e feliz aniversário, onde quer que você esteja. Fiquei afundada n0 sofá, até o fim da festa, sempre sorrindo, mas pensando em você sozinho, me esperando em vão. Sem mentiras.

Café?








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