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quarta-feira, 17 de março de 2010

to be or not to be


O primeiro emprego é como o primeiro "soutien",a gente nunca esquece! Lá pelos idos de 70 (adoro essa expressão) comecei minha vida profissional, em uma escola particular, anexa a uma Universidade (onde eu estudava). A característica dessa escola era aceitar todo tipo de aluno, desde que pudessem pagar a mensalidade. Alunos considerados de comportamento inaceitável, expulsos por vários motivos, eram despejados lá.
Numa das turmas que assumi, haviam quatro alunos expulsos de escolas públicas, por não terem o tipo de comportamento desejado. Um era epiléptico (jamais eu tinha ouvido sequer a palavra epilepsia), o outro usuário de drogas e dois homossexuais.
O epiléptico, resolveu ter um ataque, no meu primeiro dia de aula, logo após eu ter chamado sua atenção. Não sabia se gritava, se corria, se chorava! Os próprios colegas resolveram a questão, estavam acostumados com ele.
O usuário de drogas, entrou, sentou na última cadeira,da última fila e me avisou (primeira e última vez que falou comigo) que se eu o deixasse em paz, ele retribuiria. Uma vez por semana, entregava uma redação, que redigia em sala mesmo, depois dormia.Jamais chegou atrasado ou faltou a uma aula. Eu o avaliava pelas redações,psicodélicas no conteúdo, mas perfeitas na forma.
Um dos homossexuais, queria ser chamado de Paloma (fui comunicada disso também), era um rapaz muito bonito, uma postura elegante,calado, educado e excelente aluno . Andava sempre só, a única coisa que o diferenciava dos demais era um anel com uma imensa pedra amarela e os olhos maquiados. A turma o respeitava , jamais ouvi alguém ousar dizer uma piada a ele (soube depois, que andava armado com um canivete e sabia usá-lo).
Havia o Joãozinho! Uma figura! Loiro, magrinho, o rosto cheio de espinhas. Assim que cheguei, veio me recepcionar. Caminhava como uma cobrinha, serpenteando. A voz era muito estranha e falava com o corpo inteiro, não só com a boca! Logo chamou minha atenção o uniforme dele. Era obrigatório o uso de uniforme, calça azul marinho e camisa branca. Joãozinho já começava com as ousadias pelo uniforme. A camisa era branca, mas transparente, e por baixo, um lindo soutien preto rendado e nenhum seio!
Era alegre, muito amigo das meninas e paquerava abertamente os meninos. Esse atrevimento lhe custava várias surras ! Era o alvo preferido de todos os rapazes ,para chacotas e brincadeiras de mau gosto. Mas Joãozinho, não desistia. Era valente.
Desses quatro alunos, apenas do epiléptico nunca mais tive notícia! O que usava drogas, se suicidou, um tiro na cabeça. Paloma, morreu assassinado logo depois, com seu próprio canivete. Joãozinho, virou cabeleireiro, possui uns enormes seios, formas arredondas, bem femininas. Usa roupas femininas, sempre decotadas, curtas, extravagantes. Continua extrovertido, alegre, um eterno adolescente! Excelente profissional.

Agora, fala sério, quando se fala em homossexual, qual a imagem que vem a sua mente? Joãozinho ou Paloma? Claro que o Joãozinho!

Agora, vou defender o general, rotulado de homofóbico. Todos sabemos que o mundo militar é diferente. Cheio de normas e regras, eles nem pensam como os civis (sou filha de militar)!
Imaginem o desespero do general em pensar num Joãozinho nas suas fileiras ! Foi pensando num soldado como Joãozinho que ele disse o que pensou: "indivíduos desse tipo (homossexuais)não conseguiriam comandar a tropa". Não conseguiriam mesmo!

Na sabatina a que foi submetido ele reafirmou sua posição, alegando que :"Tem sido provado mais de uma vez; o indivíduo não consegue comandar. O comando, principalmente em combate, tem uma serie de atributos, e um deles é esse ai. O soldado, a tropa, fatalmente não vai obedecer. Foi provado na guerra do Vietnã, tem vários casos exemplificados, que a tropa não obedece normalmente indivíduos desse tipo"

Concordo que ele não deveria ter dito. Quem disse que militar é diplomático? Eles são apenas soldados ,e o exército é lugar de macho (?)!

Eu não disse que concordo com o general, disse apenas que compreendo a fala dele.
Agora, não sei se concordam ou não comigo, acho muito estranho esse medo que os "homens" têm dos homossexuais! Será que eles pensam que homossexualismo é doença contagiosa?

Mas, acho que o movimento GLS (gay,não gosto dessa palavra)deveria repensar um pouco sua tomada de atitude. A famosa "Parada Gay" , que lota a Avenida Paulista em São Paulo, não significa que é apoio ao movimento! É na verdade, um grande carnaval e na minha opinião, só reforça o preconceito (lá vem ela com o passo errado novamente).

Lembrei agora, de uma piadinha, que se encaixa aqui. João amava Maria.Eram felizes. João, era motorista de caminhão e escreveu no para-choque (mudanças ortográficas?)" Maria é gostosa". O amores nem sempre duram. O deles acabou! Maria casou com outro rapaz, que mais tarde se tornou prefeito da pequena cidade. O prefeito, começou a se aborrecer com a frase no caminhão de João, que displicentemente ou intencionalmente, não havia apagado. O prefeito, obrigou judicialmente João apagar a frase. Ele obedeceu. Só que escreveu outra : " Continuo pensando a mesma coisa" . E agora?

Não adianta criarem leis contra os preconceitos! Não importa se racial ou sexual! É preciso haver mudança de atitude e só se consegue essa mudança, através da educação! Podem criar quantas leis quiserem, podem prender,que nada mudará, enquanto não houver respeito pelo outro . Apesar da leis, de punição, a maioria vai agir como João :"continuo pensando a mesma coisa!"

Na minha pausa para um café, vou homenagear Joãozinho, com uma música que gosto muito! Eu adoraria ver o Joãozinho comandando uma tropa do general!

Café?

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