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domingo, 27 de março de 2011

o professor


Este mundo é pequeno mesmo ! Ontem lia o jornal e vi uma notícia sobre o arcebispo de Feira de Santana, uma cidade limpa, aqui na Bahia, situada a 108 quilômetros de Salvador. Lá estava o nome do arcebispo -Itamar Navildo Vian -duas pessoas com esse nome seria uma estranha coincidência. Fui pesquisar. Era a pessoa que eu pensava, meu professor de Psicologia da Educação, lá na Universidade Católica de Pelotas. Pois é, o gaúcho de Roca Sales, padre Itamar veio parar aqui na Bahia.

Quando eu estudava na Católica, tínhamos dois professores padres, ele e o padre Juan Mosquera. este último, acho que abandonou o sacerdócio. Lembrar deles me levou de volta ao período que estava na universidade. Fiquei estarrecida ! Não guardo nenhuma lembrança boa, não consigo lembrar de nenhum professor que tenha marcado minha vida. Todos medíocres, na minha opinião. Não estou falando em dominar ou não os conteúdos. Falo sobre serem ou não professores.

Eu sonhava fazer o Curso de Direito, quando terminei o magistério. Minha mãe disse não! Eu já era casada. Nunca sonhei ou desejei ser professora. Fiz o magistério por imposição de minha mãe. Quando terminei o estágio, jurei nunca mais chegar perto de uma sala de aula. Foi a experiência mais traumatizante da minha vida. Recebi uma turma, de quarta série, com alunos de 8 a 16 anos. Tinha até um grego, que falava mal o português. Cheguei a duas conclusões , primeira, odeio pedagogas. Nada do que aprendi das teorias em sala de aula, funcionava na realidade, no mundo real. Segunda, não há preocupação em formar professores e sim transmissores de conhecimentos de utilidade duvidosa.

Minha mãe vetou meu ingresso no Curso de Direito por um motivo tolo - os colegas seriam todos homens, a maioria pelo menos. Meu marido apoiou minha mãe, não pelo motivo que ela apresentava, apenas para não contrariá-la. Lá fui eu para o Curso de Letras. Continuo achando o Direito um curso lindo, mas detesto advogado.

Tive o maior problema de adaptação no Curso de Letras. Primeiro, o curso não me atraia e eu sou passional, em tudo precisa ter amor. Em segundo lugar, a minha turma. Éramos 30 alunos, 27 professores estaduais e municipais, duas não trabalhavam (eu e uma colega) e mais um rapaz, o Cláudio que era cego.

A primeira coisa que aconteceu foi o comportamento das colegas professoras, elas nos isolarem. Nos consideravam umas patricinhas, só por não trabalharmos. A segunda, foi eu odiar o Cláudio, já na segunda semana de aula. E os professores? Ah aqueles professores, merecem um parágrafo!

O professor de Filosofia da Educação era um advogado, juiz e doutor em filosofia. Um homem grosseiro, prepotente e vesgo. Quando nos chamava e dizia apenas "- você ai, acorda!". Se não apontasse com a mão, não saberíamos com quem ele estava falando. Pelo olhar jamais identificaríamos. Exigia que todos ficassem em pé quando ele entrava . Atrasados não entravam na sala de aula e se , por acaso, num gesto de muita ousadia, alguém se retirasse durante a aula dele, mesmo para ir ao banheiro, não poderia voltar e ficava com falta. Ele sentava, ficava falando e nós não anotávamos nada. Metodologia desconhecida para a turma, acostumada com esquema no quadro, polígrafo ou ditado. Só ouvíamos e o Cláudio datilografava, numa máquina em Braille. O barulho era infernal !

Quando marcou a primeira prova, rebuliço geral. Não tínhamos a menor ideia do conteúdo e não ousávamos perguntar a ele. Pedimos ajuda ao Cláudio, ele se recusou a ajudar. Compreensível o comportamento dele, ninguém conversava com ele e reclamávamos do barulho o tempo todo. Quando o professor entregou as notas, foi um desastre! Ninguém atingiu a média. Pior que isso foi o discurso dele, depois de nos humilhar com as notas. Disse que só pessoas incompetentes, que não davam para mais nada, iam para o Curso de Letras. Um bando de mulheres ignorantes e um cego. Nem o Cláudio tirou nota boa. Conseguimos sobreviver a ele. Não reclamamos na Reitoria.

Houve o professor de inglês, recém chegado de um mestrado nos Estados Unidos. Só falava inglês e afirmou várias vezes, quando houve reclamação, que estava lá para ensinar a nível universitário, nós que fossemos estudar inglês, em algum cursinho, para podermos acompanhar as aulas dele. Eu e minha colega fomos para o Cultura Inglesa, as demais não, além de não terem tempo, já era um sacrifício conseguirem pagar a universidade. Na verdade, só dava aula de gramática, o grande mestre. Sobrevivemos a ele também.

Houve o belga, mal falava português, doutor também, sei lá no que. Professor de Metodologia Científica e História da Educação, vários livros e artigos publicados. Nos fez ler Paidéia , em trinta dias e escrever um artigo . Sabem quantas páginas tem esse livro? Li algumas partes, enrolei bastante e consegui tirar nove com ele. As que tentaram seguir as regras certinhas, fracassaram. Aprendi que na universidade, até os doutores são passíveis de serem enganados ou eles não lêem com atenção os trabalhos dos alunos. Esse, pelo menos, nunca nos chamou de burros.

Houveram outros, nesse mesmo nível, uns melhores outros piores, mas ninguém que tivesse deixado uma marca boa. Conclui que não basta dominar o conteúdo, precisa ser professor. Esse é o grande problema. Ser professor é um dom, ser professor é dominar a arte de ensinar, mesmo não sendo um doutor ou um mestre. A Católica tinha um excelente quadro de professores, no quesito titulação, mas bons professores, no meu tempo, poucos. O padre Itamar e o Mosquera foram bons professores, mas também pudera, eram professores de psicologia.

Nunca deixei a menina rebelde aflorar dentro de mim ! Nunca comprei briga com aqueles professores, por um motivo muito simples - eu estaria sozinha ou no máximo poderia contar com o apoio da outra "desempregada". As demais, queriam apenas a titulação para ganharem um pouco mais de aumento no salário. Nunca mais soube delas. O Cláudio se formou, o encontrei anos depois, casado, professor numa escola para cegos. Era um rapaz bonito, casou com outra cega, uma moça muito feia, mas ele via apenas o interior dela, então deve ter valido a pena.

Mais tarde troquei de universidade, meu marido foi transferido, mas não compensa falar sobre o assunto. Aliás, nem gosto de pensar no assunto.Lembrança deletada, como faço com tudo o que poderá me aborrecer.

Enfim, passei por inúmeros professores, ao longo dos anos e apenas duas, marcaram a minha história. Lembro até hoje, com muito carinho das duas. Eu ainda consigo vê-las dando aula. Aprendi tudo o que me ensinaram e jamais esqueci. Adoraria tê-las seguido como exemplo de excelentes professoras, seres humanos magníficos. Falhei, ser professor é um dom, coisa que eu não tinha, apenas sempre tratei meus alunos com respeito. Aprendi com elas.

Meu pai não tinha paradeiro, só em Cruz Alta, moramos três vezes, numa dessas passadas fui aluna das professoras Eunice Furian e Eveline Espellet, essas duas foram mestras, a elas a minha homenagem e meu carinho. Elas marcaram minha história.

Minha música é em homenagem a elas.

Café?





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