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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

crack of dawn


O dia nascia. Estávamos naquele momento mágico onde o único som que ouvíamos, era o marulhar das ondas do mar. Tudo era paz ao nosso redor.

As ondas iam e viam, preguiçosas, esparramando-se na areia morna. Às vezes, uma que outra, acariciava nossos pés. Estávamos deitados, ele olhava para o céu, as mãos cruzadas atrás da cabeça. Olhava ora para o céu , ora para mim, com o canto dos olhos. Eu deitada de bruços, olhava só para ele.

Olhei para o céu que se tingia de vermelho e falei: "crack of dawn", adoro essa expressão! Ele me olhou e perguntou o significado . Madrugada, nascer do dia, respondi. Olhou me com aqueles olhos da cor do céu e disse que queria, por toda a eternidade, renascer todos os dias, ao meu lado. Alertei que a eternidade era muito tempo, ele que pensasse bem !

Virou-se de bruços e escreveu na areia - "Ich libe dich" . Sorri, envaidecida, mas reclamei. Alemão é uma língua dura, própria para dar ordem. Ele rindo, escreveu em inglês - "I love you" - e perguntou se inglês, ele me amava mais. Desenhei um coração, fazendo uma moldura e acrescentei "me too". Como dois adolescentes sonhadores e apaixonados, discutíamos em que língua o amor parecia mais forte.

Ele alegou que se alemão era só para dar ordem, não concordava com o inglês também. Inglês é a linguagem dos negócios e o amor não era negociável. Escrevi em francês na areia - "Je t'aime"- é tão sensual a língua francesa, a língua ideal para falar de amor! Ele riu e voltou a olhar para o céu. Depois de alguns minutos de silêncio me disse para apagar tudo o que haviamos escrito na areia e escrevesse em português mesmo, que nós nos amavámos e era para sempre. Que o amor não tinha uma língua específica, o amor falava com a linguagem do coração. Desenhei novo coração!

-Vou ler você em braille, eu disse !
-Eu adoro ser lido em braille, pode começar , ele disse, com um olhar maroto! Quando minhas mãos começam a percorrer seu rosto, querendo gravar cada pedacinho, antes de chegar na boca ele interrompeu minha leitura, pedindo que eu olhasse ao redor para ver se havia alguém mais, naquele nosso mundo. Surpresa, olhei ao redor e confirmei que éramos só nós dois.

Ele, num salto ficou em pé e me disse : -"Vamos tomar um banho de mar !" Ingenuamente, sem interpretar direito o que ele havia dito, aleguei ser impossível, não tínhamos roupas apropriadas .
-Quem falou em roupa? Despindo -se, correu para o mar. Foi tão surpreendente a atitude dele que cai na risada ! Eu ria tanto, que chegava a correr lágrimas dos meus olhos. Ele me chamando, me incentivando a segui-lo. Deixei meus pudores, meus medos na areia, junto com minhas roupas e corri ao encontro dele. Foi uma experiência absolutamente fascinante e inesquecível. Havíamos quebrado vários paradigmas! Como estávamos felizes!

Só saímos da água quando avistei um doberman , correndo pela areia. Logo em seguida vi o dono do cão, espiando pelas janelas do nosso carro. Nos vestimos rapidamente. O encanto tinha sido rompido. O dono do animal apenas no acenou de longe mas o cão veio nos fazer festa. Eu estava morrendo de vergonha !

Quando já estávamos na segurança de nosso carro, felizes, rindo , comentei a nossa loucura. Ele me olhou, sorriu e disse:
-"Você não gostou, não estava feliz?" Eu adorei, respondi, jamais imaginei que teria coragem de fazer uma loucura daquelas.
-"Então, ninguém ama, verdadeiramente, até fazer uma loucura por amor!" Não concordei muito com ele, mas em seguida, a serpente apareceu no nosso paraíso.

Eu estava tão plenamente feliz, olhei para ele transbordando de amor e o medo apareceu. Um medo tão apavorante de perdê-lo, que doeu profundamente no meu corpo. O riso cessou! Ele percebeu minha mudança e me questionou.
-Tenho medo de te perder ! Jura não morrer antes de mim? Jura ?
-Tudo bem patroa, juro, mas só você mesmo para falar sobre morte, quando acabamos de celebrar a vida. Para você ficar tranquila, eu juro morrer, só depois de você !

Pensei um pouco, intranquila, e o medo se transformou em ciumes. Fiquei imaginando um bando de mulheres correndo atrás dele, logo que eu fosse enterrada. Na verdade pensei na palavra vadias e não mulheres. Qualquer uma que se aproximasse dele eu classificaria de vadia.

-Estás me olhando com esse olhar de tigre por quê? Ele me conhecia muito bem, esse meu "olhar de tigre" sempre aparecia quando eu ficava com ciumes ou zangada.

Sorri ternamente (mulher é rápida em mudanças) e disse haver encontrado a fórmula ideal para nunca nos separamos. Teríamos um funeral viking ! Os vikings se despediam da vida em grande estilo, num barco seriam colocados os nossos corpos, o vivo e o morto, deitados em uma pilha de madeira aromática, quando o barco começasse a se afastar da terra, um arqueiro lançaria uma flecha em chamas, para acender a nossa pira mortuária. Rumaríamos para o infinito, juntos.

Ele riu, me abraçou forte e disse que ao meu lado sempre seria feliz, jamais teria tédio pois nunca sabia como eu me comportaria, que mulher encontraria em casa quando chegava, mas que amava todas elas.

Ele partiu antes, não me levou, não cumpriu o que prometera! Ele jurou para me acalmar, jurou algo que ele não tinha como controlar ou determinar. Não tivemos nossa pira funerária tão pouco! Como é difícil viver sem ele! Como eu o amei !

Às vezes eu minto que sou feliz. Até tento ser feliz, de outra forma, meio sem graça, sentindo a ausência dele. Me restaram as minhas lembranças e a certeza de ter vivido uma grande história de amor. Quando a dor é muito aguda, remexo no meu baú de lembranças, ele está cheinho delas. Mas viver sem ele é como viver na escuridão! Acabaram -se as crack of dawn! Restaram apenas as madrugadas insones!

Café?






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