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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

história fantástica





Se vocês vão acreditar no que vou contar, eu não sei, mas juro que é verdade. Aconteceu lá para as bandas de Quarai e eu tinha uns 7 para 8 anos. Quarai é um município do estado do RS e faz fronteira com o Uruguai através da cidade vizinha de Artigas. Essa cidadezinha (continua cidadezinha) deixou marcas indeléveis na minha vida.

Primeiro, o que mais me apavorou, recebemos a visita de minha avó materna. Ela foi levar a irmã mais nova de minha mãe, para morar conosco. Nunca tínhamos visto essa nossa avó. Ela era terrível! Tornou a nossa vida um inferno. Minha mãe já nos mantinha na linha ou tentava pelo menos, mas a chegada dessa avó mau humorada, piorou tudo.

Minha mãe tinha o hábito de sestear. Ela dormia na cama e nos colocava deitados nuns tapetes, no chão. Era a forma que encontrou para tentar nos intimidar e controlar. Bastava ela dormir e nós saíamos de mansinho, para fazer nossas artes no quintal. Com a avó lá, não dava mais, ela tinha o sono leve e sempre nos pegava. Ficou impossível a situação, agora eram duas contra nós três.

Uma manhã, eu e meus irmãos decidimos que ela precisava ir embora. Na verdade a decisão foi minha, se eu tinha sete anos, minha irmã tinha cinco e meu irmão quatro. Era outono, havia muitas folhas secas caídas no chão. Não apreciei essa beleza, folhas secas era sinal de que o fogo pegava fácil. Juntamos muitas folhas secas e colocamos sob a cama de minha avó. Quando ela foi dormir , no primeiro momento, quando o sono é profundo, fui lá, e coloquei fogo nas folhas.

Ela acordou apavorada e furiosa, claro que na mesma hora identificou os culpados. Nem era tanto fogo, as folhas estavam úmidas mas a fumaceira foi grande. Ela e minha mãe apagaram o fogo e enquanto minha mãe administrava o castigo, minha avó arrumava a mala.

Estava tão zangada que nem esperou meu pai e saiu porta à fora! Alguém chamou meu pai e quando ele apareceu,minha mãe gritava tanto , que ele nem compreendeu bem o que tinha acontecido, mas saiu a procura de minha avó. Depois de despachar a criatura, ele voltou para casa e minha mãe cobrou alguma atitude dele em relação a nós. Nos levou para fora e quando estávamos longe de minha mãe, ele caiu na risada, na verdade eram gargalhadas, ele abafava com a mão, para a nossa mãe não ouvir. Nós começamos a rir com ele, imitando e tapando a boca. Nos deu alguma lição de moral e a parte mais difícil, foi voltar para casa e tentar manter uma ar de arrependimento.Mais tarde nós ouvíamos a risada deles no quarto. Nem ele aguentava mais a criatura lá em casa. Minha mãe também reclamava dela para meu pai ,diariamente.

Foi a última vez que vi minha avó. Ela morreu seis anos depois, na época morávamos em Itatiaia. Dizem que foi coração mas acredito que tenha tropeçado e mordido a língua! Coitada da minha mãe, ninguém merece uma mãe daquelas! A mãe do meu pai era um doce de pessoa. Minha tendência piromaníaca(forte demais essa palavra para minha travessura) se manifestou apenas mais uma vez, mas essa já é outra história.

Depois de minha avó, qualquer maremoto seria marolinha, como disse o "companheiro" Lula uma vez. Até hoje me assombro, com a coragem que eu tinha, nunca fui uma criança medrosa.

Eu estudava numa escola no centro,Grupo Escolar Dartagnan Tubino, foi nele que me alfabetizei. Ou a professora era muito boa ou eu muito inteligente, fui a primeira a aprender a ler. Era um sobrado antigo, amarelo, no meio de um enorme pátio com árvores frondosas por todos os lados. Um belo dia, eu estudava de manhã, o céu começou a escurecer, o dia se tornou noite. A escola tomou uma decisão brilhante, mandou todas as crianças para casa. Um detalhe, eu nunca tinha ido para a escola sozinha, logo, não sabia voltar.

Mandaram sair, eu sai. Por todos os lados eu só ouvia gritos e choro. Achavam que o mundo estava acabando. Sempre tem alguém que logo pensa nisso, frente a alguns fenômenos da natureza. Eu comecei a me deslocar, procurando algum ponto de referência. As pessoas passavam correndo por mim, portas e janelas eram fechadas. Nem deu tempo de me sentir sozinha demais, logo encontrei minha mãe, arrastando meus irmãos com ela. Saiu de casa tão desesperada, como estava vestida  pois ainda usava o avental (sempre foi muito vaidosa, jamais sairia com ele na frente da casa, que dirá na rua) e pelo caminho, ainda perdeu um chinelo. Meus irmãos choravam abraçados nela. Assim que chegamos em casa, o sol voltou a brilhar.Meu pai chegou logo depois, desesperado ,por não ter me encontrado na escola.  Choramos abraçados, os cinco, mas de alívio. Ficou para sempre, na minha memória, o conjunto lindo, formado por minha mãe, meu pai e meus irmãos, abraçados, chorando mas de felicidade. Nós cinco. Foi um eclipse.

To be continued - a história fantástica

Café?

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