Ando com vontade de criar um país novo! Cansei de ver coisas erradas e ninguém fazer nada. Nem os que têm o dever de fazê-lo. Há um porém, esse país novo com certeza nasceria com os vícios do antigo, pois somos humanos, logo, somos falhos.
Perdi a esperança? Claro que não! Jesus salva? Também não! Qual seria o caminho para um mundo melhor e mais justo então? No meu ponto de vista, só há um caminho, o óbvio e nenhum governante tem a coragem e nem o desejo de trilhar - a educação !
De que adiantam os legisladores criarem as leis estúpidas que se por um lado podem penalizar, por outro não modificam o pensamento das pessoas. Não são as leis que modificam as pessoas, o que as modifica é o comportamento consciente.
Ontem, fui pegar um livro na estante, e dele caiu uma folha de caderno, com uma poesia. escrita à mão, por um menino de onze anos. Lembrei do ocorrido ! A professora pediu aos alunos que escrevessem um texto sobre o racismo. Poderia ser em prosa ou em verso. Sexta série, colégio particular, caro como são todos eles.
Quando ele veio mostrar, fiquei comovida. Nunca tinha feito algo parecido e havia nela tanta ternura, tanta sensibilidade! Elogiei e afirmei minha crença de que a professora iria gostar muito. Ele deu uma olhada e deixou a poesia comigo.
Dias mais tarde, perguntei como tinha sido recebido seu trabalho. Ele me olhou e disse que tinha sido bom. Perguntei se só bom mesmo. Ele disse que havia escrito outro texto. Fiquei surpresa e pergunntei o motivo de não ter levado a poesia. A resposta dele me deixou chocada : "muita viadagem" !
- Viadagem ?
-Claro , disse ele. Você achar que eu iria deixar a galera cair em cima de mim , me chamando de gay?
-Por que eles fariam isso? Você por acaso é gay? Ofendidíssimo, retrucou:
-Claro que não ! Eu sou é macho!
A discussão foi longe ! Todos meus argumentos foram rebatidos com veemência. Eu falava uma língua e ele a "língua da galera". Ponto final!
O que chamou minha atenção foi perceber o nascimento do preconceito. Como se solidifica na mente das crianças. Meus argumentos contra o preconceito de nada valeram. O grupo tem mais força que a família e a Bahia é um estado machista pra.....caramba! Sendo honesta, não é só a Bahia .
Como a família vai mudar o comportamento do grupo? Impossível ! Aí começa o papel da escola . Ela está fazendo isso? Não, na minha opinião. Como esperar um mundo melhor se todos se omitirem de seus deveres morais? Podem continuar a criar leis para fingirem que se importam !
Hoje decidi postar a poesia, a revelia do autor! Escrita por um menino de onze anos, muito boa!
Maria Pretinha
Maria pretinha
não mais sorria
no lugar do riso
no lugar da alegria
nada mais tinha.
Maria pretinha
estava triste
nos seus olhos
não havia mais brilho
a boca não ria.
No lugar do sorriso
as lágrimas
em vez de alegria
tristeza
Maria pretinha não ria.
Descobriu que era diferente
sua cor a tornava desigual
Maria pretinha não entendia
Maria pretinha não ria
Agora não havia mais alegria.
Maria pretinha definhou
não estava preparada
para viver num mundo
onde a cor a distinguia
Maria pretinha não entendia
Que mundo é esse
onde ser preta
a tornava coisa sem valor?
Maria pretinha não entendia
Maria pretinha não entendia e chorou.
Essa poesia não seria aceita pelo grupo! Muita viadagem para um "macho"! Esse conceito de que ser macho precisa ser troglodita, é colocada na cabeça dos meninos pelos pais! Nem tão machos assim!
A sensibilidade, a ternura, a lealdade, a educação, também são atributos esperados num homem. Entre um macho e um homem, prefiro o homem. Machos raramente sorriem, eles sempre tem um ódio que os corrói pro dentro.
Este mundo anda tão esquisito! Vou encerrar com um pensamento de Mae West
"As coisas chegaram a tal ponto hoje em dia que, se um homem abrir a porta para você passar primeiro, ele deve ser o porteiro."
A música é para mim e para os homens, de verdade !
Café?
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