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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

uma obra de arte


Pois é, além de literatura e música eu adoro museus. Sou capaz de ficar horas, observando apenas um quadro. Às vezes sou acusada de ser inquieta ou de não prestar atenção no que estão falando comigo. Pior de tudo, é verdade! Não consigo prestar atenção em nada que não me seduza, que não me atraia, não me encante ou não me interesse. Fico dispersa.Todos me acusam desse defeito!

Estava eu, lá em Buenos Aires, visitando o Museu Nacional de Belas Artes. Maravilhoso! Não consegui olhar com a devida atenção tudo, mas fiquei vários minutos, na frente de um quadro de Henri Toulouse Lautrec, original, nada de cópia. Sempre apreciei a obra dele e, embora não seja uma das minhas leituras preferidas as biografias, li a dele e achei apaixonante.

Estava embevecida, olhando, quando um rapaz falou comigo. Olhei com certo espanto, era um misto de regueiro de Jah com torcedor do Corinthians. Figura estranha! Educado, mas estranho! Perguntou seu eu apreciava tanto assim aquele quadro, para ele, uma fotografia mal feita. Me senti pessoalmente ofendida. Respondi que era apreciadora "de fotografias mal feitas". Perguntei o que o emocionava e ele me convidou para ver o que , na opinião dele, era uma verdadeira obra de arte.

Me levou até a galeria de arte moderna. Lá estava a "maravilha" que o emocionava! Olhei e não entendi nada ! Para estar naquele museu, deve ser uma obra importante. Nem sei o nome do autor daquela "maravilha". O regueiro me deu uma explicação que me deixou atônita. Tive certeza que ele estava drogado. Eram pinos metálicos, cravados numa tela e vários fios de arame tramados.Ele me olhou triunfante e disse :"Não é uma maravilha?"

Achei que ele estivesse de brincadeira e perguntei se, realmente , via e sentia tudo o que havia descrito. Ele reafirmou que sim. Olhei bem nos olhos dele e vi que era verdade. Estraguei o grande momento quando depois de olhar bem, achar interessante e nada mais ver além de arames tramados , afirmei que achava a ponte estaiada de São Paulo mais bonita. Foi o fim de uma amizade, aliás, o aborto do que poderia ter sido uma boa amizade. Nenhum preconceito contra o Corinthians ou o reggae, gosto dos dois, mas a figura era estranha.

O que ele não entendeu é que somos pessoas diferentes, pensamos de forma diferente e nos emocionamos diferentemente uns dos outros. Sermos diferentes uns dos outros, é que torna a vida emocionante!

Mas esse "ser diferente" nos dá uma certa responsabilidade, precisamos respeitar as diferentes formas de pensar, de gostar e de se emocionar "do outro". Aqueles arames tramados não me emocionaram, não me disseram nada , mas ao meu ex quase amigo, falaram pelos cotovelos.

Os meus "gostares" nunca foram influenciados por ninguém. Não me importo com modismos, com a mídia ou com críticos. Modismos vão e vêm, a mídia é uma fabricante de falsas necessidades, de falsos desejos, de falsos lideres, de falsos ídolos. Os críticos, ah os críticos! Não gosto deles. Nunca os considerei imparciais nas análises que fazem. Além disso, o que me interessa a opinião deles? Quando digo que não gosto do Paulo Coelho foi por ter tentado ler um livro dele e não ter conseguido ir até o fim e olha que sou teimosa! Quando compro um livro me obrigo a ler. Ele não me encantou !

Certa vez, li a tese de mestrado de uma pessoa conhecida (maldita hora que tomei essa decisão). Tirou nota máxima e mil elogios. Era sobre Ernest Miller Hemingway, meu autor preferido, de todos os tempos. Já impliquei com o Miller. Ela dissecou o livro de tal forma, que me parecia um cadáver sendo autopsiado. Era meu livro preferido , "Por quem os sinos dobram" . Odiei!

Eu amava o livro pelo que ele me transmitia, pelo que eu sentia quando o lia, agora nem o releio mais. Sempre penso nela como sendo uma médica legista, o "meu livro" o corpo sendo cortado pelo bisturi.

Agora, sabemos que há "crítica" e "crítica", precisamos saber diferenciar. Há o amigo que quer participar, quer dar sua opinião sincera, essa é uma crítica construtiva, ajuda a crescer. Há o invejoso, o "espírito destruidor" que sempre pensa assim:"se não fui eu quem fez ou escreveu, não presta". Esse deve ser olhado com complascência e muita piedade. Ele é doente !

Ah minha amiga, a vida é tão curta para perdermos tempo com coisas ou pessoas medíocres! Se você prestar bem a atenção verás, são as pequenas coisas do nosso dia a dia, que tornam a nossa vida espetacular ( já li isso em algum lugar, acho que é plágio)!

Sabe o motivo pelo qual falo nos meus "gostares" e não nos seus? Estou aqui para ousar e voar. Suas asas recém estão nascendo!

Leia este trecho, a sabedoria de Borges:

"Se pudesse viver de novo a minha vida,
Tentava cometer mais erros da próxima vez,
Não tentava ser tão perfeito,
Relaxava mais.
Seria mais tolo do que fui.
Na verdade, levava muito pouca coisa a sério."

Jorge Luís Borges, 1899-1986

A minha música hoje é para meu "ex quase amigo"

Café?













6 comentários:

  1. Minha cara, mais uma vez não lhe tiro a razão!

    Sou apaixonado pelas pinturas de Leonardo Davinci, Caravaggio e William Blake, o poeta maldito.

    Essas formas abstratas, rabiscos e manchas toscas de tintas nasceram no movimento Modernista, inspirado pelo Cubismo, Dadaísmo, Futurismo, Expressionismo e outros "ismos" trazidos pelas Vanguardas Européias. Tudo bem, compreensível pelo contexto da época, porém, não vejo motivo para esse tipo de "arte" ainda existir. Hoje não há propósitos que justifiquem essa afronta artística, a não ser, corroborar com a falta de talento de alguns sujeitos frustrados que gostariam de ser pintores talentosos como os renascentistas e não conseguiram. Talvez por isso eles tenderam a procurar uma alternativa mais fácil.

    Agora dê-me licença pois vou anotar no meu livro de "máximas": Nunca aceite conselhos culturais de um sujeito regueiro com a camisa do Corinthians" rsrsrsrs

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  2. Rapaz! Ele é um bom aluno, repetiu tudo o que ouviu nas aulas teóricas! Cursa Artes Plásticas. Mas fala sério, como gostar daquilo? Tenho visto tanta coisa engraçada e acho que a maioria das pessoas dizem "achar bonito" só para não fazer feio em certos "círculos". Vou aconselhar a cada artista fazer um roteiro das emoções que "aquelas coisas" devem causar no observador, vai ficar mais fácil! Continuo achando a ponte estaiada linda, uma obra de arte da engenharia!
    Tenho uma "amiga" que sempre me critica, como se fosse minha professora de produção textual, se você soubesse o que ela me disse pelo que escrevi sobre "os arames tramados"! Já ameacei publicar o que ela me diz...rsrs Mais furiosa fica quando apenas respondo:"continuo pensando a mesma coisa" ! Mas eu gosto dela embora também pareça "arame tramado"- sem sentido, na maioria das vezes!
    Gosto de Blake , adoro a genialidade e a loucura dele!

    Um abração

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  3. Olha, eu também conheço uma pessoa que gosta de arame tramado... Mas ela é sadomasoquista. rsrsrs

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  4. Quando li, dei uma enorme gargalhada. Ela,definitivamente,não vai aprovar essa "classificação", mas....sei lá. Sabe do que mais? Vou ler mais vezes Borges, gostei quando ele diz:"...Relaxava mais.Seria mais tolo do que fui.Na verdade, levaria muito pouca coisa a sério." Pulei a parte "de ser perfeita", tenho bom senso...rsrs

    Abração para vocês.

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  5. Muito interessante, espero ter oportunidade de visitar o museu.
    A minha concepção de arte pode ser explicada muito bem neste texto. Não sei se vou conseguir me expressar adequadamente...
    Uma obra de arte é arte porque causa reações diversas nas diferentes pessoas, desde contemplação à indiferença, passando pela repulsa. A arte "toca" cada pessoa de uma forma única e especial.
    O que mais me chamou atenção foi no momento em que se falou em diversidade você usou o termo (correto) respeito. A diversidade deve ser respeitada e não "tolerada". Tolerância, neste sentido, é um termo que rejeito completamente.
    Também não sou afeito a influências de críticos , afinal, como disse acima, a arte também causa reação à pessoa que não vai reagir imparcialmente, impossível! Imparcialidade...não existe!
    Como já disse em outras plagas, não faço tipo influenciável...Bjos

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  6. Gostei do que você disse sobre "respeito" e tolerância" ! É verdade, precisamos respeitar os outros e não tolerar.

    Agora, Buenos Aires é uma festa para os olhos e os sentidos! Pretendo voltar, deixei de ver muitas coisas que me interessam e aprendi uma lição- afaste-se de guias turísticos. Descobri Buenos Aires com um livro na mão. Caminhei todos os caminhos, descobri maravilhas, tomei mil cafés e me deliciei.
    Resolvi ir até o Tigre numa excursão, que raiva ! Na verdade a guia nos arrastou , parecia que estávamos num trem e só víamos a paisagem passar correndo e, é muito fácil ir até lá sozinho! Mais um dos meus conselhos...rsrs

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