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quarta-feira, 6 de abril de 2011

o destino

Hoje fui a uma agência de viagens, pensando no feriado da Páscoa. São Paulo tem a minha preferência, minha mãe e irmãs estão lá mas para ir visitá-las, eu não precisaria de uma agência. Ando com muita vontade de ir a Minas Gerais , não a dos roteiros históricos, conheço todos. Pensava num roteiro sentimental, começaria lá em Santo Antônio do Grama, onde está meu pai e terminaria em Belo Horizonte. Ainda estou indecisa, há tanto o que conhecer, aqui mesmo, na Bahia, que resolvi dar uma olhada em alguns roteiros.

Eu estava pensando na Chapada Diamantina, vi fotos belíssimas, relatos interessante, dizem que há muito magnetismo e magia no ar. Gosto dessas coisas. Lá, o que mais me atrai é o Poço Azul e o Poço Encantado, lagos de águas cristalinas dentro de duas cavernas. Há também a famosa Cachoeira da Fumaça, a maior cachoeira do Brasil, com uma queda d'água de 380 metros. A água não chega ao chão pois ventos ascendentes no penhasco a levam para cima sob forma de vapor. Podem imaginar espetáculo mais grandioso? Desisti logo. É tão agreste, é tão difícil chegar lá, sem falar nas trilhas, que desisti. Fui olhar outros prospectos. O único momento que lamento não ser rica, é quando vejo todos aqueles lugares maravilhosos que nunca irei conhecer. Nem mesmo aqueles famosos "cem lugares que você não pode deixar de ver antes de morrer".

Estava distraída, olhando e pensando em São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Dizem que é um dos sete pontos energéticos da terra e tão alto que ficamos mais perto das estrelas. Esse é outro roteiro que me atrai . A atendente cortou o rumo dos meus pensamentos e me perguntou:

-Qual seria o seu destino? Olhei para ela, meio surpresa, pois meu pensamento estava muito longe dali. Andava perdida em meus devaneios - São Tomé - uma cidade mística. O misticismo me atrai. A pergunta dela quebrou o encanto, eu estava conectada a um mundo místico, quase me sentindo levitar. Pelo menos meu espírito.

- O meu destino? Não sei moça, eu vou construindo , dia a dia, sem programação. Ela sorriu, meio sem graça, no mínimo pensando que eu estava louca e reformulou a pergunta, gentilmente:

-Dos nossos roteiros, qual o que mais lhe atrai? Assinei meu atestado de louca, sorrindo, disse a ela: -Nenhum, vou para São Paulo. Agradeci a atenção, virei as costas e sai. Posso imaginar o que ela ficou pensando !

A pergunta dela, sobre meu destino, não saia da minha cabeça. Como eu estava no shopping, logo encontrei um café, sentei, pedi um capuccino com chantilly. Como estava sozinha, comecei a ouvir uma música e aguardar meu café. Quem já não se perguntou sobre se existe ou não destino ? Eu, inúmeras vezes ! Já li tanto , sobre se existe ou não o tal de destino , nunca cheguei a conclusão alguma. Prefiro acreditar em coincidências . Essas coincidências não seriam a mesma coisa que destino? Falar sobre destino é uma discussão que não leva a lugar nenhum, dependendo dos debatedores.

Meu café chegou e não retirei os fones dos ouvidos. A música era tão linda e os baianos são tão barulhentos! Pensava em destino e lembrei do meu amor. Hoje eu penso nele com calma, sem raiva, sem querer fazer uma lista das "cem pessoas que deveriam morrer antes dele", sem querer apedrejar as igrejas ou queimar os padres na fogueira da inquisição. Sem desejar que "apagassem todas as estrelas, embalassem a lua ou desmantelassem o sol. Os bosques não seriam mais varridos, nem o mar seria despejado". Sem ficar com vontade de dar um soco nas pessoas que me diziam que a vida continuava. Parei de acreditar que dali pra frente tudo seria inútil.

Voltei a pensar em destino. Quando eu tinha nove anos, morei ao lado da casa dele. Ele, com dezenove, tinha uma namorada e quando ela ia aos domingos, almoçar na casa dele, normalmente, a tarde, ele saia a passear de carro com ela. Eu e a irmã mais nova dele íamos junto. Eu queria conversar com eles, nenhum dos dois falava comigo. Nos dava balas e mandava que ficássemos de boca fechada. Eu detestava ele. Sempre, quando chegava de volta, fazia queixas dele para minha mãe. Ela já me xingava também, não conhecia eles direito e eu não tinha nada que ficar passeando com eles. A permissão sempre era dada por meu pai.

Seria destino? Anos mais tarde, tornamos a nos encontrar e eu fiquei perdidamente apaixonada por ele, no primeiro olhar. Mas não ligava a pessoa dele àquele rapaz do passado. Meu pai que o reconheceu. Para minha desgraça, a mãe dele também tinha boa memória. Quando ele me levou para conhecer seus pais, só não desisti dele por estar apaixonada.

Eu estava com um vestido bege , de seda, com minúsculas bolinhas brancas. O sapato na cor exata do vestido. Um calor infernal e eu de meia calça. Estavam os pais dele, duas irmãs e os sobrinhos. A mãe dele, após me examinar, dos pés a cabeça me disse: "_Você era aquela menina terrível, que andava caminhando em cima dos muros e jogava pedras no nosso quintal?" Olha, as pedras, acho que era criação da imaginação dela. Caminhar em cima do muro sim e era um muro bem alto. Eu estava absolutamente intimidada por eles e por seus olhares. Assim que a mãe dele me fez essa pergunta, ele disse algo em alemão para ela, a situação piorou. Começaram uma conversar em alemão e de alemão eu só sabia -" ich liebe dich". Para piorar a minha situação, uma sobrinha dele, com uns dois anos, resolveu subir no meu colo e puxou um fio da minha meia. Já me senti meio despida, com vontade de dar um tapa naquela criança. Não achava nenhuma graça em criança. Eu tinha meus próprios irmãos e ele já eram demais para mim.

Foi uma tarde infernal ! Não via a hora de ir embora. Serviram chá, porcelana na mesa, flores e mil iguarias. Parecia que eu estava num encontro com a família real, de tanta formalidade. Nem ele era o mesmo perto da família. Formal e nem na minha mão segurava para me dar segurança. Que diferença da minha família ! Como ele mudava perto da família dele ! Eu me apaixonei por ele, assim que o vi, tão lindo,uns brilhantes olhos azuis, da cor do céu em dia ensolarado, com tanta classe ! A família dele eu detestei à primeira vista. Eu tinha apenas dezessete anos. Aprendi a conviver com eles, mas eu era mais feliz longe deles. Quando finalmente terminou aquele suplicio, que entramos no carro, ele voltou a ser o homem que eu conheci. Eu tinha hora marcada para voltar para casa. Era a primeira vez que saiamos sozinhos, aproveitamos bem aquele raro momento.

Sentada naquele café, diante da xícara vazia, eu ria muito, sozinha. Anos mais tarde, nós dois rimos muito do episódio e ele jurava que eles não estavam falando mal de mim(não acreditei), só me acharam muito nova. Meu pai achava ele muito velho para mim, nem por isso deixou de tratá-lo bem. Sogra é sogra, se for boa é uma benção senão for....... Lembrei também de que quando fizemos um ano de casados, meu marido me deu uma linda pulseira de ouro. Fui mostrar para a sogra. Ela olhou, achou um desperdício de dinheiro (como se fosse ela quem tivesse pago) e seu único comentário foi: " - estão comemorando um ano de guerra? Poxa, foi uma boa guerra, combatemos um bom combate.

Pensando nele, lembrei que sempre me dizia que nosso amor estava escrito nas estrelas, antes da Tete Espindola estourar com sua música. Se há destino, então ele fez grandes emaranhados, até nós dois nos encontramos. Quando ele partiu,no dia 24 de abril, no meu domingo sangrento, deixou um presente para mim. Meu filho, examinado nosso carro, achou sob o carpete do porta malas, uma caixa embalada em vermelho, para presente. Dentro, uns brincos de ouro, dois corações entrelaçados e um acróstico. Ele vivia fazendo pequenos poemas para mim e sempre colocava sob meu travesseiro. Tenho todos guardados e deverão ser incinerados juntos comigo.

Vou compartilhar o último. Ele era uma pessoa muito religiosa e jamais conseguiu ou tentou me converter, ele me aceitava bem do jeito que sou.

Querida! no céu, quando

Ungida fostes co'água sagrada

Expreitando -te, disseram os anjos

Rogando a Maria: - fosses tu

Imagem viva e imaculada

D'alma sem mancha, da mãe

Amor e felicidade celestial


Tens hoje por herança o que pediram

Amizade no coração e felicidade

N'alma. Dos imortais da terra és

Inspiradora flor que no alto

Acena as glórias do Criador.

Assistimos um filme em que o casal foi separado pela morte. Ela envelheceu e passava os dias sentada numa cadeira de balanço relembrando o passado. Um dia ele reapareceu e a convidou para dançar. Suas almas saíram dançando, eram tão jovens quanto quando se conheceram. Na cadeira ficou apenas o corpo sem vida da velha senhora. Ele ficou muito emocionado e combinamos que o primeiro que fosse, viria buscar o outro, quando fosse o momento certo. Estou esperando.

Café?


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