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quinta-feira, 22 de julho de 2010

duelo ao amanhecer


Eu sei, eu sei que vai parecer sessão nostalgia, mas nem tanto. Quando eu tinha entre 12 a 13 anos, minha família vivia na serra em Itatiaia. Lá em cima, pertinho do Pico das Agulhas Negras. Na época, meu pai trabalhava no Sanatório Militar. Não era um sanatório de loucos não, eram tuberculosos e os ares da serra não faziam tão bem assim a eles ou já iam para lá em estado terminal. Como morriam !

A vila militar ficava longe do sanatório mas, por ser na serra ,tínhamos uma visão perfeita, não só do hospital quanto da capela mortuária. Nas noites que víamos uma luz de vela acesa na capela, era sinal que alguém havia morrido. Aquela vela acesa me fascinava. Eu não entendia nada de morte na época ! Ficava pensando em quem estaria deitado lá e sozinho. Fantasiava mil histórias sobre um morto que eu nunca tinha visto e nem sabia a idade ou nome. Para mim eram todos jovens e belos.

Criava histórias terríveis sobre fantasmas, mortos revoltados, mortos heróicos e valentes. Na minha imaginação, eram todos heróis de guerra! Achava meio sem graça morrerem de tuberculose. Eu já havia lido A Dama das Camélias, mas na época, pensava ser muito nojento morrer cuspindo sangue e a Marguerite era meio burrinha, na minha opinião. Então meus heróis morriam sem cuspir. Eles eram sempre soterrados por bombas alemãs, numa Londres bombardeada ou degolados por japoneses malucos! Não consigo gostar de japoneses até hoje! Morrer soterrado pelas bombas, era uma morte mais digna . Isso para mim, era o máximo.

Claro que minha imaginação fértil era alimentava pelos filmes que assistia. Havia uma espécie de clube para os militares e, aos domingos, sempre assistíamos de um a dois filmes no clube. Quem selecionava os filmes só gostava dos de guerra ou de faroeste . Como eu gostava de fantasiar que morava no faroeste, matava meus heróis na guerra. Dava a todos os mortos, uma morte mais heróica, mas digna de um soldado. Morrer cuspindo sangue era coisa da bobinha da Marguerite!

Aterrorizava as crianças menores com minhas histórias fantásticas a tal ponto que, quando viam a vela acesa na capela mortuária, começavam a chorar. Foi só muito tempo depois, que os pais descobriram que era eu a responsável pelo terror dos menores. E dos não tão menores também !

Eu estudava em Resende, mas morava em Itatiaia. Tenho vivências e histórias magníficas desse tempo ! Que eu me lembre, o melhor período da minha vida, como criança ainda. Para minha mãe deve ter sido um período terrível ! Eu me comportava tão mal quanto os meninos. Na maioria das vezes, eu era a culpada por tudo de errado que fazíamos. Era eu, meu irmão mais novo e mais três meninos da minha idade. Homem é bobo desde menino, era eu quem liderava o grupo.

Morar no faroeste era o máximo ! Como gostava da parte dos filmes em que os índios, montados à cavalo, atacavam a cavalaria. Também aqueles soldados eram muito estúpidos ! Eles para atacarem, precisavam ouvir o som da corneta! Os índios não, eram mais espertos ! Atacavam de surpresa ! Além disso, os índios eram mais bonitos ! Aqueles soldados podiam morrer pelas flechas que eu não me importava.

E os duelos então? Sempre havia aquela música de fundo que criava uma tensão máxima. Os raios de sol incidindo sobre os olhos do bandido e o cegando, sensacional! Eu ficava quieta, nem suspirava, esperando o mocinho sacar e matar o vilão. Observava as mãos nervosas, loucas para pegarem a arma, mas como demorava o clímax ! Quando o bandido caia, a população covarde, que até então só tremia e se escondia, começava a gritar, a festejar ! Eu detestava aquele povo. Para completar, havia o beijo do mocinho na mocinha ! Nossa! Eu quase chorava de tanta emoção. Me comportava como uma menina ! Mas devo confessar que , nessa época, meus seios começaram a nascer e acabaram com minha liberdade !

Pois bem, dias atrás, eu não assisti, mas li sobre um duelo. Sem música de fundo, sem tensão, com o povo assustado ao redor e sem o beijo final na mocinha. O que mais me entristeceu é que não sei quem era o mocinho e nem quem era o bandido !

Dois homens ficaram brincando com seus carros (saudade dos cavalos ) no caótico e congestionado trânsito de Salvador . Pensem num trânsito complicado e caótico! Pensaram ? Pois é, o de Salvador é pior. Nunca vi tanta falta de educação no trânsito como aqui! A regra é não existir regra. Cenas do faroeste.

Pois bem, lá pelas tantas, os carros pararam. Desce de um dos carros, um homem furioso com a arma na mão! Deu voz de prisão ao condutor do veiculo que o havia atrapalhado. Só que era um soldado da PM , fardado, armado, indo em direção ao trabalho. Imaginem o que aconteceu, o óbvio! Ele atirou. Atirou a primeira vez na clavícula do outro duelista. Isso não desencorajou o oponente. Continuou avançado. O soldado tornou a atirar e acabou matando o agressor!

Um duelo estúpido! Sem emoção! De qualquer forma o soldado vai se dar mal. Sabem quem era o outro? Um juiz ! Isso mesmo um juiz e portando uma arma israelense, privativa das forças armadas! O duelo continua! Agora é na troca de acusações ! O juiz era estressado mesmo, tem mais de uma ocorrência de violência no trânsito. Agora estão pesquisando a vida do soldado ,para ver se descobrem algo contra ele.

Não me interessa o resultado desse duelo ! O fato que me deixou abismada foi a atitude do juiz! Ele era um juiz ! Fico aqui pensando como ele teve acesso aquela arma, privativa das forças armadas ! Eu hein?

Eram tão bons os filmes sobre o faroeste, lá a gente sabia quem era o bandido e quem era o mocinho e ainda havia o beijo final!

Café?


2 comentários:

  1. Tania, cada dia me surpreendo mais contigo e mais te adimiro.
    Saudade, muita saudade!!!
    Beijos

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  2. Adoro ter amigos, eles me fazem tao bem !!!!
    Estou em Buenos Aires, amando cada segundo !

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