Queria ter postado algo quando atingi os dez mil visitantes, mas andava
envolvida demais comigo mesma. Não tem dois anos ainda que este blog nasceu despretensioso, apenas um local para eu largar as pedras que carregava nas
costas. Larguei as pedras pelo caminho, mas ganhei uma responsabilidade .
Hoje acordei tão feliz com o canto dos pássaros madrugadores! Fui para a
sacada observar o dia que nascia manso e luminoso. É inacreditável a beleza do
horizonte , preguiçosamente acordando, apoiado no mar, quando o sol começa a
aparecer. Senti-me iluminada por dentro. Estava tão feliz, naquele momento, que
chegou a me dar medo! Ser feliz hoje em dia depende de tantos fatores ! Com
medo de ser feliz, mesmo por alguns momentos, me perdi nos meus pensamentos. Melhor,
mergulhei neles.
Essa sociedade bizarra, onde vivemos, faz tantas cobranças que nos deixa
com pouco espaço. Não há muitas opções, ou você se enquadra ou é considerado
marginal. Essa luta inglória de tentarmos sermos nós mesmos e ao mesmo tempo
não nos diferenciar dos demais, nos esgota. Queremos ser nós mesmos mas, ao
mesmo tempo, precisamos atender aos princípios que foram pré estabelecidos sei
lá por quem, igreja , sociedade, família, Estado ou todos juntos.
Sem falar no nosso próprio freio de mão, sempre somos
conscientes do momento que aceleramos e os riscos inerentes a esse gesto.
Deveríamos arriscar mais, romper paradigmas .
Pensei nas mulheres. Elas nasceram para casar, terem filhos e criarem
esses filhos. Diante dessa
predestinação, as que não conseguem casar, recebem uma marca – perdedoras.
Desperdiçam o resto de suas vidas acumulando frustrações e sentindo se
diminuídas. Um péssimo casamento é melhor que nenhum casamento. A qualidade de
vida, a felicidade, a realização pessoal, a paz de espírito não importam. Importante é ter a marca do dono – senhora
fulana de tal.
As que não são adeptas ao
casamento, por questão de opção de vida- são as disponíveis e essa palavra não
é um elogio. São vistas como, no mínimo
, estranhas, ou coisa pior. A sociedade bizarra ainda não amadureceu o
suficiente para entender essas mulheres. Um dia ainda chegaremos lá. Há bem poucos anos atrás, uma mulher separada
era muito mal vista, hoje, não existe mais esse preconceito. Quantas ficaram presas a casamentos infelizes
para protegerem os filhos do estigma de
serem frutos de um lar desfeito? Nem vale a pena falar sobre a dependência
econômica, seria estender demais o assunto e, esse não é meu objetivo.
Filhos. Ah os filhos ! A noiva mal sai do altar e começam as tias a
cobrarem filhos. Isso nos casamentos
convencionais, atualmente, é cada vez mais comum, os filhos virem antes do
casamento. Filhos não desejados mas aceitos. Como ficam as mulheres que não
querem filhos? Não querer filhos é um crime grave, afinal as mulheres nasceram
para procriar e assegurar a
sobrevivência da espécie. Os modelos de comportamento já estão estabelecidos,
ninguém tem o direito de romper os paradigmas.
Atualmente há um patrulhamento ideológico muito bem disfarçado. As
pessoas são obrigadas a aceitarem as regras ou serem criminalizadas ou
discriminadas. Experimentem e observem as reações escandalizadas, se disserem
em um grupo, que não seja o seu , que não gosta de crianças, cachorros,
nordestinos, homossexuais ou afros. Diga
que adora um sapato de couro de jacaré, um lindo casaco de pele natural.Quem
tiver a ousadia para tal será marcado a fogo. Não gostar de manga ou sapoti( eu
detesto essa fruta enjoativa), não significa necessariamente que a pessoa vai
sair serrando e exterminando todas as árvores que produzem essas frutas.
Significa apenas que não gosta ! E daí? Somos obrigados a gostar de tudo o que
os outros gostam?
Outro ponto nevrálgico é a família! A família é sagrada, é nosso porto
seguro, nosso refúgio. Ela nos fortalece e nos dá segurança e o rumo certo.
Outra mentira. Deveria ser assim mas nem sempre é. Há famílias que são
responsáveis diretas, pelas desgraças que acontecem com algum dos membros.
Experimente dizer que não gosta do seu pai , da sua mãe ou de algum irmão !
Você será olhado como uma pessoa estranha ou louca.
Na minha mão há cinco dedos,
nenhum é igual ao outro, eu prefiro o menorzinho, o mindinho ( por motivo fútil
e não funcional, ele é o mais bonito).
Devo cortar todos os outros? Claro que não, todos possuem uma função específica e são
necessários para o perfeito funcionamento da mão. Se eu perder um dedo minha
mão para de ter utilidade? Não, simplesmente vou tentar me adaptar a fazer tudo
com quatro dedos e não mais cinco. Se eu perder a mão, vou continuar vivendo do
mesmo jeito. Assim é com a família! O que mantém as pessoas da família unidas
não é o famoso “laço de sangue”, é o
respeito e o amor. Quando não há respeito ou amor, não há laço que segure a
união. Igualzinho a qualquer grupo social. Outro paradigma que
precisa ser rompido pra não acrescentar o sentimento de culpa naqueles que não
conseguem se relacionar bem dentro de suas famílias. É o dissidente o culpado
ou a família que não o respeitou e nem o amou o suficiente para aceitá-lo como diferente ?
Todas essas reflexões surgiram de uma conversa com uma amiga. Ela é
financeiramente bem resolvida, não quer casar, não gosta de crianças e nem de
cachorros. Não é lésbica, tem seus namorados, mas até hoje, nenhum despertou
nela o desejo de dividir sua vida. Ela está errada? Claro que não! Ela é dona de seu destino. No
entanto, essa sua atitude ou filosofia de vida,está criando um enorme problema
, a mãe e as irmãs a criticam. Estranho é o comportamento das irmãs, pois
nenhuma delas possui sequer um casamento razoável. Gostam da condição de
casadas, apenas isso as mantém presas num lar infeliz. O que essa minha amiga
fez? O que qualquer pessoa sensata faria, depois de tentar se fazer entender,
se afastou da família. Vai morrer chorando neste Natal ou entrar em depressão?
Não, vai partir num cruzeiro com outras mulheres que pensam como ela. Pretende
ser divertir muito e está aberta a algum relacionamento, se surgir. As irmãs,
tenho certeza, com a vidinha medíocre que levam, passarão o Natal criticando a
irmã.
Há conceitos tão antigos que precisam ser mudados pois a família não é mais a mesma. As mudanças na sociedade, na economia, entre outras tantas, obrigou a formação de novas famílias que continuam regidas, ainda, por velhos tabus. Gostar mais do pai do que da mãe não é crime algum, significa apenas que há mais afinidade com o pai. Respeitar os dois é essencial, questão apenas de hierarquia, de educação. Normas são necessárias em qualquer grupo social.Não concorda com as normas dos pais ? Basta ter paciência e esperar seu momento de provar que eles estava errados. Poderá ocorrer uma grande surpresa, você descobrir que eles estavam certos o tempo todo. Pais erram e muito, afinal, eles são apenas seres humanos e não deuses. Como cobrar perfeição? Como eu disse a minha amiga, ela não deve se sentir culpada de nada. Não ocorreu um ato de desamor, pelo contrário, ela, em respeito ao pensamento da família, querendo manter sua posição, apenas se afastou. Quem errou foi a família que não a respeitou como ser independente do grupo.
Aos irmãos se aplicam as mesmas regras dos dedos das mãos. Todos criados na mesma casa e todos diferentes. Quando os pais conseguem ensinar respeito, a convivência é mais fácil. Sem o respeito, os jovens lobos começam a querer disputar território e o mais forte se impõe aos outros. Quem disse que os mais fracos aceitam a liderança do mais forte? Eles se unem, apenas por interesse, para combaterem o outro. E a figura do "filho preferido"? Em quase todas as famílias existe esse personagem. Coitado ! De duas uma, ou ele usa esse título e usufrui de todas as vantagens que esse "favoritismo" lhe oferece ou é obrigado a conviver, para sempre, com o ciúmes, mesmo que velado, dos outros irmãos. Precisará provar, o tempo todo, porque é o favorito. Cansativo isso! O mais trágico disso tudo é que esse favoritismo significa apenas, que tem mais afinidade com o pai ou com a mãe. Experimenta dizer que não gosta de um irmão ! Será olhado com muita estranheza.
Um irmão poderá ser um amigo , mas não necessariamente. Amigos são a sua segunda família, aquela que você monta, sem imposição, sem cobranças. O amigo você o atrai pela afinidade. Há diferenças fundamentais entre amigos, colegas e conhecidos, eu falo sobre amigo. O irmão não, sem chance de escolher, é igual a colega. Vocês ficam juntos por algum tempo, por necessidade, poucos, no entanto, se tornam amigos. As irmãs da minha amiga, continuaram, ao longo da vida, apenas irmãs, não amigas. Devemos ousar e romper esses paradigmas, sem culpa, sem remorso. Como são complicadas e delicadas, as relações familiares onde você é obrigada a gostar de alguém que não tem a menor afinidade com você, além de não ter respeito.
Eu não estou preocupada com minha amiga, estou muito preocupada com a mãe e as irmãs dela. Me atrevo a dizer que elas gostariam muito de ter a coragem da irmã, viver a vida como elas desejavam, mas lhes faltou coragem para enfrentar o desafio, logo, é mais fácil criticar aquela que ousou ser feliz, apesar da oposição da família. Penso que devemos sempre ousar, arriscar, é bem melhor do que ficar infeliz uma vida inteira sem saber se daria ou não certo ter tido a coragem de mudar.
Café?
.
Olá, Tariza!!!
ResponderExcluirMas essa pisciana não consegue ficar um mês sem se reformular e rever seus conceitos? vixi, mãinha...
Como sempre concordo com tudo, menos com "as mulheres precisam ter filhos"... Somos em 7 bilhões de seres "humanos". Acho que o mundo já tem gente demais!!! rsrsrs
Um abração, Tariza!!!
Estou sempre em mutação...rsrs Qualquer hora dessas, em vez de um peixe acordo transformada num jacaré.
ResponderExcluirMeu lema sempre foi : viva e deixe viver. O mundo mudou, precisamos acompanhar, estou sempre revendo meus conceitos e adoro romper paradigmas...rsrs
Fiquei assustado quando abri teu blog, agorinha. Quando corri os olhos pelo título da postagem "Rompendo Paradigmas", li: "Rompendo o diafragma". rsrsrsrs
ResponderExcluirTenho que parar de mexer na internet enquanto ainda estou dormindo...
Bom dia! Feliz 2012 para vocês!
ResponderExcluirRi muito quando li seu comentário.
Para de dormir e corra atrás das editoras, muito curiosa com seu novo livro!
Um abração!